Mais um artigo interessante, a origem do amplificador Deacy no Queen:
http://hackaday.com/2017/05/08/a-queen-mystery-the-legend-of-the-deacy-amp/=====================================================
UM MISTÉRIO DA BANDA QUEEN: A LENDA DO AMPLIFICADOR DEACY
Parece com uma cena de um filme. Numa noite escura em Londres, ano de 1972. Um jovem caminha sozinho, indo pra casa depois de uma longa noite de ensaios com sua banda. Com seu pesado baixo Fender pendurado nas costas, ele está cansado mas excitado sobre o futuro. Quando ele passa por uma lixeira, uma profusão de cores chama sua atenção. Fios, não fios de energia, mas fios de bitola mais fina, para conexões eletrônicas. Como curioso e estudante de engenharia elétrica, ele tinha que investigar. O que ele achou se tornou parte da história do rock and roll, e a semente de um mistério que durou por 40 anos.
O sujeito era John Deacon, e ele tinha sido recentemente aceito como baixista de uma banda chamada Queen. Olhando para a lixeira, ele descobriu os fios ligados a uma placa de circuito. O circuito parecia ser de um amplificador. Provavelmente de um rádio transistorizado ou de um toca-fitas. A banda Queen ainda não era grande, assim todos os membros dela estavam lutando pelo sucesso em Londres.
Deacon pegou a placa e levou para casa e examinou-a atentamente. Ele achou que ela poderia ser um bom amplificador para praticar com sua guitarra. Ele colocou o amplificador dentro de uma caixa acústica pequena (modelo de prateleira = bookshelf), acrescentou um jack de 1/4 para entrada e fechou a caixa. Um potenciômetro de controle de volume ficou pendurado do lado de fora na traseira da caixa. A energia vinha de uma bateria de 9V externa. Não baterias pequenas para rádinhos, mas um pack grande de 9V PP-9, muito usado nos rádios da época. O amplificador tocava melhor no volume máximo, assim eventualmente, mesmo o controle de volume foi removido. John gostou da simplicidade da falta de controles - apenas plugava a guitarra e tocava. Sem controles pra se preocupar.
O SOM
Os guitarristas de hoje adoram o termo "tone". Ele é usado para descrever o som final obtido da guitarra, amplificador e quaisquer efeitos no meio. Palavras como "mellow" e "crunchy" vem à mente. Pode ser difícil para quem não é guitarrista perceber. O amplificador de John tinha um tom quente e simpático, levemente distorcido - agradável para os ouvidos. Ele usou o amplificador por um tempo, então levou-o para ensaiar com seus colegas do Queen. O guitarrista Brian May se interessou pelo amplificador. Agora Brian exerceria seu lado hacker. Sua guitarra, a Red Special, foi fabricada como projeto de pai e filho quando Brian era adolescente. A Red Special
https://pt.wikipedia.org/wiki/Red_Special merece um artigo só dela, então fique atento por isso. Brian tocou muitas vezes com um reforçador de agudos. Este era um simples circuito a transistor que atuava como pré amplificador de 30dB. Ele garantia que qualquer amplificador ligado teria seu estágio de entrada sobre excitado (overdriven).
Ao plugar este conjunto no amplificador Deacy, mudou ainda mais o som. O amplificador super excitado tinha sonoridade diferente de qualquer coisa que eles tinham ouvido antes. Não apenas o som quente de um amplificador valvulado saturado, mas muito mais suave que o som clipado e distorcido que vem de um amplificador transistorizado daquela época. Ele também tinha sustentação nele. A Red Special de repente começou a tocar como um violino, um violoncelo, ou mesmo a voz humana. Brian amou o som e continuou experimentos com o amplificador.
Os caras do som do Queen também adoraram o amplificador. ele era muito consistente, o que o tornou adequado para as trilhas nos estúdios de gravação. As guitarras eram gravadas ligando as aos amplificadores e apontando um microfone para o gabinete do falante do amplificador. Exatamente como colocar o microfone e o amplificador, assim como os ajustes de cada um é mais arte do que ciência.
Brian rapidamente adotou o amplificador, e ele se tornou parte integral dos primeiros sons do Queen. Você pode ouví-lo em clássicos como "God Save the Queen", "Killer Queen", e mais recentemente em "A Winter´s Tale". Na minha humilde opinião, o mais interessante uso do amplificador Deacy seria "Good Company", do álbum "A Night at the Opera". Brian gravou trilha após trilha com o Deacy. No final, ele reproduziu o som de uma banda inteira de metais, apenas usando sua guitarra.
E assim é como as coisas são - Brian usou o Deacy em muitas sessões de gravação dos anos 1970 aos 1990. Ele nunca falhou ou precisou de ajuste. De fato, o amplificador nunca foi aberto após John Deacon ter construído ele. Tudo isso mudou em 1998, quando gravava "Another World", Greg Fryer pediu a Brian para construir uma réplica para o agora envelhecido Deacy. May concordou, e o trabalho de estudar o original logo começou.
Existe um certo nível de stress que um arqueologista deve sentir quando começa levantar camadas de poeira em um sítio de escavação. Greg Fryer e Pete Malandrone devem ter tido o mesmo sentimento quando abriram pela primeira vez o Deacy. Os dois não tinham ideia do que eles iriam encontrar neste equipamento de décadas. Havia uma chance real deles danificarem uma parte funcional da história do rock.
Removendo com cuidado a traseira, eles encontraram uma placa simples de circuito. Era um circuito com 4 transistores. A seção de potência era um amplificador classe B em configuração push-pull. Os transistores de potência eram transistores de germânio AC128. Tanto a entrada como a saída eram acoplados por transformadores, com os transistores de potência montados sobre os núcleos dos transformadores com múltiplas tomadas. Ele era um pouco estranho, tanto eletronicamente como fisicamente, embora algumas partes do circuito pareciam ter sido tiradas diretamente do manual de transistores da Mullard.
CLONANDO UM ORIGINAL
A placa era definitivamente uma peça de produção de eletrônicos de consumo de baixo custo. Replicar o projeto básico seria fácil. A parte difícil seria replicar os transformadores. Os dois transformadores eram de baixo custo e tinham múltiplas tomadas. Alguém poderia medir a resistência de cada tomada, mas sem desmontá-los seria impossível saber exatamente o material das laminações do núcleo, ou exatamente quantas espiras haviam ali.
A dupla fechou o amplificador e começou a projetar as réplicas. A primeira tentativa tinha um som parecido com o Deacy, mas ainda não chegava lá. Greg continuou a refinar o projeto nas horas vagas. Cada iteração chegava mais perto do som do Deacy. Por volta de 2003, a duplicação do amplificador tinha ser tornado uma missão para Greg. Ele chamou Nigel Knight para ajudá-lo com o esforço. A ideia era não apenas fornecer alguns amplificadores para Brian, mas criar réplicas que poderiam ser compradas. Existem milhares de fãs do Queen que tentam replicar o som do setup da guitarra de Brian May. Isso seria o mais perto que eles poderiam querer.
Em 2008, Brian deu o OK para desmontar completamente o amplificador, e determinar exatamente o que acontecia. Os transistores foram testados individualmente. Os transformadores foram examinados e testados por fabricantes de transformadores que subiram a bordo para ajudar. Espiras de fios foram enroladas em volta dos transformadores, criando mais um enrolamento secundário. Injetaram sinais nos primários desconhecidos e vendo os sinais nas saídas dos secundários conhecidos ajudaram a determinar o desempenho do transformador.
Para muitas partes se descobriu que estavam fora de especificação. Os AC128 estavam ambos em distantes e opostos valores do que as datasheets estabelecem como nominais. Em um amplificador push-pull, você deseja um par de transistores casados. Esse par era o mais distante de casados que alguém poderia imaginar. O resultado era que com uma entrada de onda senoidal, os picos inferiores começavam a clipar bem antes dos picos superiores. Isso era um dos segredos do som do Deacy.
O resultado do trabalho de Greg e Nigel foi a réplica Knight Audio Technologies Deacy. Ele não era um equipamento barato, custando mais de 1000 libras esterlinas. Ele ainda é vendido e satisfaz todo mundo, incluindo mesmo o próprio Brian May.
O MISTÉRIO DA ORIGEM, RESOLVIDO
O mistério ainda continuava - de onde veio o amplificador ? Nigel achava que ele era originalmente parte de um monitor de bebês ou intercomunicador de algum tipo, já que era um amplificador stand alone. Geralmente um rádio ou toca-fitas teria todas as partes só numa placa de circuito. Tanto Greg como Nigel postaram fotos do interior do Deacy no começo dos anos 2000. Isso levou a internet para a discussão. Certamente a internet seria capaz de encontrar as origens de placas de circuitos comuns como aquele.
Infelizmente a resposta não vinha. Os anos passaram, e pesquisadores curiosos, incluindo este autor do artigo, não encontraram nada. Isto é, até janeiro de 2013. Mitch (também conhecido como PBPP) no fórum de rádios antigos, jogou uma bomba numa postagem. Ele tinha encontrado a origem da placa do amplificador Deacy. Era a seção amplificadora de um rádio transistorizado afinal, especificamente o PR80 Supersonic. Ele foi além e encontrou a documentação do bicho, em SAMS Photofact Transistor Radio Series TSM-60 publicado em outubro de 1965.
A Supersonic era uma empresa que fabricava eletrônicos de consumo na África. Eles fabricavam na Rodésia e África do Sul durante períodos diferentes. Este modelo de rádio em particular é muito raro de se encontrar. Mesmo assim, somente Manuel Angelini postou provas fotográficas de sua placa do amplificador do PR80.
Assim, o mistério da origem do amplificador Deacy foi resolvido, os componentes reais ficam cada vez mais difíceis de serem encontrados. Transistores de germânio ficam cada vez mais raros. Logo, o único jeito de ter o seu próprio som Deacy, será disparar algum software em DSPs e simular o som.
==========================================
Agora deu vontade de ouvir "Killer Queen" e o solo de guitarra de May.