Estranhei o fato de nenhuma revista ou site que costumo ler e frequentar, não ter feito um artigo sobre os 50 anos de um componente que faz parte da história da eletrônica e de muitos livros didáticos, mesmo os atuais.
Outros componentes dessa mesma idade foram contemplados com artigos, como o 555 e o 2N3055, mas acho que esqueceram do nosso componente.
E esse componente a que me refiro, apesar do meio século completado no ano passado, ainda é produzido, e acreditem, muito utilizado nas montagens de circuitos (principalmente entre os montadores de pedais).
Eu estou falando do amplificador operacional 741 (uA741 ou LM741). Esse circuito integrado se tornou uma espécie de componente padrão da indústria (um exemplo é que a sua pinagem é quase a mesma da maioria dos amplificadores operacionais simples mais modernos), embora ele não tenha sido o primeiro amplificador operacional de estado sólido em circuito integrado a ser projetado e fabricado). Antes dele existiram o 702 (de 1963), o 709, o LM101 e o LM301, todos projetados por Bob Widlar (os dois primeiros na Fairchild e os dois últimos na National).
Bob Widlar era um engenheiro meio estrela na Fairchild e quando pediu um aumento de salário e não foi atendido, saiu da Fairchild e foi trabalhar na National. Assim sobrou para o seu substituto na Fairchild, David Fullagar, projetar um amplificador operacional para concorrer com o LM301 nos anos de 1967-68. A primeira vista, ele se baseou no LM101 da concorrente. Mas ele viu um monte de defeitos (o estágio de entrada era muito variável e sensível a ruído, devido ao processo de fabricação) e Fullagar teve a grande sacada de fazer a compensação de frequência colocando um capacitor de 25pF (ou 30pF) internamente na pastilha do ci. Os antecessores do 741 precisavam de que uma rede externa de resistor-capacitor fosse adicionada ao circuito, para que eles tivessem estabilidade. Com o 741, isso acabou e facilitou em demasiado o trabalho dos engenheiros da época (e de hoje).
O 741 foi um sucesso e vendeu centenas de milhões de peças e foi fabricado por muitas empresas. O primeiro 702 custava 300 dólares (na época uma pequena fortuna), hoje o 741 é vendido a 25 centavos de dólar em lotes de 1000 peças.
Meu primeiro contato com o 741 foi em 1984 em algumas aulas de laboratório e ouvi do professor que alguns alunos sacanas furtavam os cis dos osciloscópios Tektronix do laboratório (era fácil: retiravam os módulos do osciloscópio que saiam pela frente e acessavam facilmente a placa de circuito onde ficavam os cis soquetados).
Eu lembro que uma das primeiras placas de circuito impresso que desenhei e montei, usava esses cis 741, para um trabalho em grupo. Era um gerador de sinais, com oscilador e formatadores para onda quadrada e triangular.
Hoje existem centenas de outros modelos de amplificadores operacionais, muito melhores em qualquer especificação que se possa escolher, mas a literatura ainda cita muito o 741.
Um dos 741 antigos que tenho e fabricado no Brasil.
Uma foto da pastilha do 741 mostrando as partes dele. Vejam que o maior componente é justamente o capacitor de compensação de frequência.
Um kit para montar o 741 feito com componentes discretos.
http://www.righto.com/2015/10/inside-ubiquitous-741-op-amp-circuits.htmlhttps://www.evilmadscientist.com/2014/the-xl741/